quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Conto - O Grande Rei
O grande rei atravessa o corredor comprido de paredes altas e escuras, vestidas de enormes quadros, quadros de bustos sérios e impenetráveis que parecem vigiar seu andar, castiçais a cada 2 metros para iluminação do ambiente, que a luz das velas ainda deixa existir uma penumbra macabra. Dentre as várias portas deste suntuoso corredor com tapetes perfeitamente limpos e estendidos, a porta maior e mais decorada no final do corredor é aberta pelo rei. Um rangir de madeira é ouvido. Apenas isso. O andar do rei, tão calmo e silencioso mal se percebe. Dentro da sala que acabara de entrar, o teto se eleva, o ambiente é amplo, com algumas janelas estreitas e verticalmente compridas escondidas por cortinas pesadas de cores douradas e vermelhas. O mobiliário da sala igualmente ostentoso, de peças em madeira, decoradas e esculpidas nos pequeníssimos detalhes. Num canto da sala, há um estante repleta de livros que chega até o teto, na frente desta, uma mesa enorme e uma cadeira de madeira almofadada em vermelho. Em cima da mesa, um castiçal, papéis, pena e tinteiro e um globo terrestre.
O rei se encaminha até uma das janelas compridas, afasta um pouco a cortina e observa lá fora. O que vê é a frente do seu enorme castelo. Um jardim tão largo quanto a própria moradia, com flores e arbutos dispostos artisticamente por jardineiros altamente competentes. As flores, com a inteção geralmente de colorir, neste jardim não exercia a mesma função. As diversas espécies de flores são de uma única cor, que em seus diferentes tons formam figuras abstratas de uma coloração uniforme e melancólica. Por entre o jardim um linda estradinha chega até a varanda do castelo.
O que o rei procura olhando para fora não se sabe. Talvez estivesse olhando para verificar se tudo em seu castelo andava em ordem, principalmente sua fachada e seu jardim; pois para o rei aquilo que era superfície, que ficava a vista de todos, deveria receber os mais cuidadosos zelos. Ou talvez ele estivesse esperando ansiosamente a chegada de alguém muito importante, que chegaria por aquela estradinha sinuosa. Ou talvez, estivesse apenas observando o tempo, que neste momento, o sol acabava de deitar-se no horizonte, formando um nítido crepúsculo a oeste, e a leste notava-se uma tropa de nuvens cinzas e carregadas seguindo a direção do vento frio, dividindo o céu em dois lados, leste e oeste, chuva e sol, noite e dia, escuridão e luz. O rei notara o tempo ruim que se aproximava, mas nao podia sentí-lo, dentro de seu castelo maciço, com tapetes e cortinas tão longas e grossas, não sentiria uma brisa fria nem um pingo de água de toda esta tempestade que viria a derramar-se sobre a terra. Uma lareira no outro canto da sala poderia ser acesa, caso a temperatura caísse muito. Já estava quase na hora do jantar, a cozinha distante fervia de panelas ao fogo, cozinheiros e auxiliares conversando e rindo e a fazer o delicioso banquete do rei, e de seus convidados, quando fosse o caso; no entanto, na sala onde estava o rei aflito não se ouvia um ruído sequer de louças a bater e de empregados a falar. Perante o rei, os inúmeros empregados o tratavam com a máxima reverência e formalidade, como era exigido por ele mesmo, mas quando encontravam-se em sua ausência, riam da cara dele. Não havia servos rebeldes odiando-o, apenas o ridicularizavam e encontravam graça em todas as suas atitudes . Uma das coisas mais engraçadas era a vestimenta do rei. Botas, calça, colete e casacos enormes, caros e muito extravagantes. As vezes o rei percebia olhares de deboche, mas não se importava com isso, pobres subalternos, nunca entenderiam o que é uma vestimenta de rei, o quão valiosa e cheia de majestade eram aquelas nobres roupas.
Quando um calhambeque preto se avistou no horizonte da estrada, vindo em direção ao castelo, toda a aflição do rei se dissipou, fazendo-o suspirar de alívio. Foi então que ele abaixou a cortina e foi até a mesa servir-se de uma dose de uísque e se dirigiu para a porta, andou a passos rápidos e firmes pelo corredor, que agora ecoavam um tom de pressa. Depois do corredor, o rei ainda atravessou ainda outra enorme sala e chegou a escada, bastante larga, que descia em caracol, corrimão de madeira finamente talhada e vernizada. Desceu os degraus e alcançou o hall de entrada, fez força para abri a gigante porta de entrada do seu castelo, queria ele mesmo receber seu visitante e encaminhá-lo para a sala que estava antes, de modo que nenhum empregado percebesse a visita e ficasse tentando escutar através das paredes. Uma vã tentativa, pois neste imenso castelo, que abrigava quase uma centena de empregados para sua manutenção, eram tantos olhos curiosos sobre a figura deste nobre solitário, que nem mesmo seus sentimentos passavam despercebidos.
O rei recebeu seu visitante com os cumprimentos formais e pediu que o acompanhasse até uma sala mais reservada. Duas empregadas espreitavam-os por detrás de uma das colunas do hall de entrada. Após verem o rei e seu visitante subirem as escadas, cochicaram entre si, desta vez, sem piadas e chacotas, pois sabia que está visita poderia ser cansativa tanto para o rei quanto para elas. A maioria dos empregados, principalmente, aqueles que trabalhavam no interior do castelo, já sabiam o motivo da visita. Não raras vezes, presenciaram seu visitante saindo às pressas do castelo, como um bicho indefeso que foge do seu predador, enquanto o predador esbravejava do alto de sua torre imperial. Em outras ocasiões, ocorria o inverso, o rei se tornava o bichinho acuado, precisando de todos os cuidados, mimos e afetos que tantas vezes negava.
Passado quase uma hora e meia após a chegada do visitante, este sai da sala e desce as escadas a procura da governanta do castelo. Quando a encontra, demonstra um ar de desânimo e tristeza. "Acho que logo o perderemos de vez". Afirma o vistante, balançando a cabeça negativamente. "Ele está piorando, doutor?" Pergunta a governanta. "Sim, está piorando cada dia mais. Hoje tentei novamente informá-lo da sua doença e agora ele está numa grande confusão mental, pelo menos não me expulsou violentamente como já fizera outras vezes." O médico dá uma pausa e continua. "Creio que será muito díficil recuperar sua lúcidez, talvez tenhamos que tentar métodos alternativos de tratamento". "Doutor, não entendo porque ele não consegue enxergar a realidade a sua volta". "Minha querida, porque seu grande rei sofre de esquizofrenia, ele criou uma realidade parelela a nossa e vive lá, antes até conseguíamos convencê-lo de que ele não é um rei, apenas um homem rico que mandou construir este castelo enorme para isolar-se do mundo hipermoderno em que vivemos. Mas sinto que ele cada vez mais se perde neste seu universo medieval."
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Magica visao
O mundo nao eh um pesadelo
de amores e amantes esta cheio
O mundo nao eh de ternura
inocentes morrem nesta ditadura
Alegria e tormento todo dia
o resto eh caos, cade a magia?
Ha muito tempo morreu
ou nunca nem existiu
Sera que a vida eh assim?
Tudo branco no preto
e os magicos, outra historia de ninar.
Ou fomos nos que com o olho da cara
pagamos pela ambicao
e agora ja nao vemos
a magia da suprema visao
de amores e amantes esta cheio
O mundo nao eh de ternura
inocentes morrem nesta ditadura
Alegria e tormento todo dia
o resto eh caos, cade a magia?
Ha muito tempo morreu
ou nunca nem existiu
Sera que a vida eh assim?
Tudo branco no preto
e os magicos, outra historia de ninar.
Ou fomos nos que com o olho da cara
pagamos pela ambicao
e agora ja nao vemos
a magia da suprema visao
Inimigos
Quem me dera ter todo esse poder
para agir como um deus,
pecando ou nao
sem por isso ser castigado
ao contrario, cegamente louvado!
Quem me dera agir
com a frieza da minha razao
e tao rapido quanto o pensamento
para que os erros nao encontrem tempo
e me deixem seguir livre
da minha propria vigilancia
Quem me dera poder
segurar meu coracao no peito
quando tiver forcas pra lutar
esperando o melhor momento
de lancar o fatal veneno
no seio do meu inimigo!
para agir como um deus,
pecando ou nao
sem por isso ser castigado
ao contrario, cegamente louvado!
Quem me dera agir
com a frieza da minha razao
e tao rapido quanto o pensamento
para que os erros nao encontrem tempo
e me deixem seguir livre
da minha propria vigilancia
Quem me dera poder
segurar meu coracao no peito
quando tiver forcas pra lutar
esperando o melhor momento
de lancar o fatal veneno
no seio do meu inimigo!
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